des // dobramento // s

// Por Cecília Cotrim e Daniela Mattos

(ecos de silêncio dos des//dobramento/s na escrita)

dar conta de si, cuidar-se, escutar-se

ver as horas passando onde quer que se esteja e ainda assim conseguir pensar além, mais adiante do que ainda está por fazer, mais para lá do que nossa biologia ou nossa biografia nos impõe

entender quando o que se anseia não é mais horas no espaço do dia, é mais humanidade, mais alegria como prova dos nove, mais espaços de troca e lugares de encontros que não se reduzam a responder demandas, que possam reverberar como acontecimentos

desviar o quanto possível das subjetividades que precisam responder a tudo de um modo estabelecido, normatizado, estanque (mas enfrentá-las se for necessário)

conseguir ainda assim operar cortes reais, mesmo que como micro-poros, nas múltiplas máquinas de moer gente que precisamos enfrentar no cotidiano, que nos anestesiam e estancam nossas forças de criação pois excluem o desejo, quase o apaga dos nossos corpos

(imagem 1)

permitir-se desdobrar o silêncio, fazê-lo ecoar em nossos vazios e deixá-los tornarem-se plenos, aceitá-los em sua dificuldade e sua potência, quando podemos perceber que o copo está vazio, mas ao mesmo tempo cheio de ar

arejar o espaço do pensamento, desafiá-lo, cartografá-lo considerando a potência performativa da vida e de seus nós (cortá-los quanto górdios) preparando o terreno para mudanças

(imagem 2)

os projetos//processos abordados no vocabpol são desdobrantes: irrompem provocando giros, saltos: são processos críticos progressivos: caldos de redução arte//política.
as proposições nascem e crescem nelas mesmas e noutras, escreve hélio oiticica em ‘as possibilidades do crelazer’. é por aí que pretendemos pensar o movimento provocado pelo termo desdobramento….. [seguir os desdobramentos em ho é como ir dos meandros das cosmococas aos parangolés, e daí a orgramurbana…. a apocalipopótese, a cães de caça,,,,,,, deslizar de projeto cajú a mitos vadios, em lances de retomada crítica//
desdobramentos são micro-processos ao longo dos quais surgem, e são reduzidos, diferentes feixes de questões…. daí, configuram-se outras regiões… em ritmo, temperatura, pressão, [clima?], cor, tato, olfato, paladar, múltiplos perceptos e afetos….

(imagem 3)

“oh, psychodélie!” – exclama gilles deleuze, a uma dada altura de Lógica do sentido. vamos tentar desdobrar estas notas a partir de experiências com a fagulha que se inscreve, se escreve…. uma espécie de marca vocabo-política, mas também uma partitura de ação, deflagrando novas páginas e comportamentos. [desejamos algo como o trecho torrencial de waly salomão, ao descrever os movimentos de ho, em desvio, com a bateria da mangueira, pelas bordas do mam, na opinião 65:

o ‘amigo da onça’ apareceu para bagunçar o coreto: hélio oiticica, sôfrego e ágil, com sua legião de hunos. ele estava programado mas não daquela forma bárbara que chegou, trazendo não apenas seus parangolés, mas conduzindo um cortejo que mais parecia uma congada feéria com suas tendas, estandartes e capas. que falta de boas maneiras! […] uma evidente atividade de subversão de valores e comportamentos. barrados no baile. impedidos de entrar. hélio, bravo no revertério, disparava seu fornido arsenal de palavrões: – merda! otários! racismo! crioulo não entra nesta porra! etc., etc., etc… (1)

nossa proposta é pensar numa redução entre os anos rebeldes da contra=cultura e esse início do terceiro milênio, segundo o ritmo da montagem/sampleagem que basbaum retomou em conversa durante a residência do vocab=pol na glória, [vivência voltada a desdobrar radicaixs-etc [vocábulos desdobrando-se uns nos outros, uns antes/depois/dentro dos outros, como no pensamento performativo da bitola, deflagrado pela loura git=mar. ou palavras e carne em atrito com a cidade, como no love de juliana=cavaleira.]
geléia adversa=adversa geléia: a dupla condensação, em estado de oposição, participa do contexto específico de um diagrama de basbaum, de 2008. relacionam-se em tensão, entre as três tríades que aparecem à oeste do plano, vizinhas:

(imagem 4)

parece que tais tríades trazem alguns pontos importantes para a nossa discussão: focaremos em: transatravessamento, adversa geléia, artista-etc. estes 3 termos podem funcionar como detonadores, lançando a discussão, e o desejo, sobre certas estratégias artísticas contemporâneas que, ao lado das outras tríades, formam essa estranha região [estranha e complexa]: a zona de interseção proposta pelo vocab=pol….. vocabulário político para processos estéticos.

provocando dobras críticas ao articular duas expressões-clichê, de ho e torquato [da adversidade vivemos, e geléia geral, respectivamente], o diagrama faz vibrar – aí nessa região – diferentes fases do circuito de arte carioca…..   numa dessas fases, maldita!, desdobrar é como deflagrar, e se diz assim – diretamente da coluna de torquato (2):
o aterro, do saguão ao mar mais pensar agindo: orgramurbana: a quase corporalidade da significação………………………..

(1) waly salomão, hélio oiticica, qual é o parangolé? p. 59.
(2) “sobre orgramurbana. como uma carta para hélio oiticica”, luis otávio pimentel invadindo geléia geral, em 9 de dezembro de 1971.

Rio de Janeiro, 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

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